quinta-feira, 25 de novembro de 2010

À Três Palmos da Morte


A Três Palmos da Morte
Em 1965 na pequena cidade de Ouro Preto um crime hediondo acontece, uma das famílias mais nobres e influentes da cidade é brutalmente assassinada, o inexperiente detetive Lucas Crane é chamado para investigar. O corpo do filho mais novo de cinco anos havia sido encontrado na lareira, quase completamente queimado, o corpo do filho mais velho de vinte e um, na sala de jantar, com o lustre que antes pendia no teto, encravado em seu peito, mas o que mais chamava atenção era o corpo da mãe, encontrado no velho escritório da casa, a mulher estava nua, em um grande círculo com um Pentagrama feito de sangue dilacerado por o que parecia ser uma espada que ficava em um quadro em cima da lareira. O detetive aproximou-se do corpo, o examinou e disse ao outro oficial que o acompanhava:
-Alguém sabe do pai?
-Aparentemente um dos vizinhos o viu saindo correndo da casa com um tipo de revólver na mão e com as vestes banhadas em sangue, - disse Pietro Veracruz, o policial parara para respirar um pouco de ar fora da sala escapando do cheiro de podridão em que a sala estava envolvida e por fim completou – O vizinho se assustou e chamou a polícia, o oficial bateu à porta umas cinco vezes, quando não obteve respostas derrubou a porta e encontrou o nosso “amiguinho” da lareira.
-Me diga uma coisa Pietro, há quanto tempo o vizinho chamou a polícia? - Perguntou Lucas.
-Eu diria que umas duas horas.
-Ótimo, ordene uma busca geral pela cidade.
Dois dias após o incidente os oficiais terminaram as buscas sem êxito, Antônio Mordock foi dado como foragido da lei, aparecendo três anos mais tarde morto em Belo Horizonte.
I
Jean Tartarelle, despreocupado, ouvia seu Walk-Man no carro de sua mãe enquanto esperava chegarem ao seu destino. O garoto tinha 14 anos, cabelos negros, olhos azuis e usava um Nike novo que sua mãe lhe comprara. Ele, seus pais e seu irmão de 7 anos estavam indo para sua nova residência em Ouro Preto.
O carro havia parado em frente à uma casa não muito diferente das demais que se encontravam ali, que tinha a pintura quase que inteiramente descascada e um velho lampião enferrujado colocado na sacada.
Jean desceu do carro com um pouco de dor nas costas causada pela posição em que o garoto ficara no carro e reparara que ja era tarde.
Ele se aproximou da casa e admirou a velha construção por algum motivo a casa lhe dava uma estranha sensação de que já estivera ali, observou a casa por algum tempo e foi ajudar a mãe a carregar sua mala para dentro do aposento.
A sala de visitas estava cheia de poeira, com dois sofás velhos e uma lareira não usada há algum tempo, o menino prosseguiu pela casa chegando a uma sala onde havia uma escada, levando ao andar superior, e duas portas, uma de cada lado mostrando certa simetria.
O menino havia parado para escolher qual rumo tomar, até ser orientado pela mãe:
-Acho que os quartos ficam no andar de cima, mas se você quiser, pode ir conhecer a casa.
-Tudo bem mãe, só vou conferir meu quarto antes e depois vou ver os arredores. – Respondeu Jean.
Eles subiram para o segundo andar onde o chão era revestido por um lindo carpete vermelho com as paredes cobertas por um papel de parede azul.
Assim como o cômodo anterior, este também era simétrico, com uma porta no centro do andar e outras duas, em cada ponta do andar, mas com uma escada embutida no teto, com uma corrente para trazê-la ao chão quando fosse necessário.
Jean prosseguiu para o cômodo à direita. No quarto havia uma cama de solteiro, um guarda-roupas de madeira, um criado mudo e uma estante com um espelho nela.
Jean largou a mala em cima da cama, desceu às escadas e prosseguiu até a sala de jantar, onde estava uma mesa para umas vinte pessoas, um grande e fogoso lustre e uma outra porta ao fundo que provavelmente levava à cozinha.
O garoto não passou dali, suas pernas tremiam devido ao cansaço da viajem, ele subiu ao seu quarto, jogou a mala no chão e deitou-se ali, adormecendo quase que instantaneamente.
No sonho, ele estava no meio da sala de visitas, um homem colocava um pequeno garoto dentro da lareira ardendo em chamas, o garoto gritava feito louco, mas Jean não conseguia se mexer do lugar.
Ele acordou assustado, suando, ele esperou alguns instantes para analisar o que acabara de ver. Desceu as escadas novamente mas dessa vez, seguiu para o banheiro, tomou uma ducha ali e saiu um pouco da sombria casa, quando algo tocou seu ombro com uma voz cavernosa dizendo:
-Precisa de alguma coisa moleque?
-ahhh!Q-Qem é v-você? – Gaguejou Jean
-Eu sou Jimmy, moro na casa ao lado, você precisa de alguma coisa?
-N-Não... Eu... Eu estou bem...
-Muito bem, qualquer coisa é só chamar viu?-Perguntou o velho senhor.
-Ok...
O velho de cabelos grisalhos deu meia volta e adentrou a casa ao lado, novamente o garoto parou um instante para digerir o que acabara de acontecer mas fora interrompido por uma visão da outra casa ao lado, uma jovem garota de cabelos loiros e olhos azuis se vestia na janela aberta. A garota percebeu que estava sendo observada e desceu até a porta:
-Me desculpe, mas você estava me observando?- Perguntou a garota
-Eu... Eu... Sou o novo vizinho... E estava conhecendo os vizinhos. –Respondeu Jean. - A propósito, eu sou o Jean. – Completou ele estendendo-lhe a mão.
-Ah sim, eu sou Sophie - Respondeu ela apertando a mão do menino.
-Você saberia me dizer quem é a “simpatia” que mora ali na outra casa?
-Sim, ele é o senhor Banner, um senhor solitário que mora aí desde que eu me lembro, quanto a você, o que um rapaz da cidade grande vem fazer nessa cidadezinha do interior?
-Como você sabe que eu sou da cidade?-Perguntou Jean
-Bom, eu deduzi pelas suas roupas. –Respondeu ela
-Enfim, eu vim de São Paulo morar aqui já que minha mãe foi transferida para uma filial daqui.
-Sim, hey, você sabe o que aconteceu nessa casa trinta anos atrás não é?-Perguntou a menina apontando para a casa do Jean.
-Como? Trinta anos atrás?-Perguntou Jean
-É, trinta anos atrás o pai da família que morava aí matou a família inteira, ele colocou o filho mais novo na lareira, o filho mais velho ele matou com um lustre na sala de jantar, mas a mãe foi a morte mais bizarra, o marido a matou e a colocou em um círculo como se fosse um tipo de ritual.- Sophie tomou fôlego e prosseguiu - Na época a polícia fez várias buscas mas o cara só foi achado três anos depois quando ele se matou lá perto de Belo Horizonte
Jean nem se quer se despediu da menina, correu para a casa, e procurou os pais, encontrando o pai:
-Pai vocês nos trouxeram para uma casa onde mataram uma família inteira aqui?-Perguntou ele ao pai quase desesperado.
-Espera aí, me conte direito essa história. -Disse o pai curioso.
Jean repetiu ao pai exatamente o que ouvira da nova amiga, sendo interrompido quando os dois ouviram um forte barulho vindo do andar de cima.
-Pai... Onde estão a mãe e o Rodrigo?- Perguntou Jean tremendo.
-Sua mãe o levou para conhecer a cidade. – Respondeu o pai mais nervoso do que antes.
Os dois subiram as escadas cautelosamente as escadas, e se depararam com uma mensagem assustadora escrita em sangue:

“Sangue será derramado se os novos hóspedes continuarem na casa, a morte baterá na porta no final do dia de amanhã, saiam ou morram”.

Os dois homens que ali estavam se calaram, por fim correram para a porta de entrada mas esta não abria, correram para as janelas mas todas estavam trancadas, e com um ruidoso abrir de porta, uma figura parecida com um humano surgiu, mas estava com órgãos e parte do cérebro à mostra, envolta em sangue e com um punhal na mão. A criatura se aproximava dos dois, assustados, eles gritaram com toda a força por ajuda, mas a criatura avançara mais ainda, agora mostrando que aquilo parecia estar morto há muito tempo, o cheiro de podridão que exalava deixava claro que já estava em decomposição fazia algum tempo. Com um estrondo a porta se abriu e Jimmy esbravejou aos dois:
-Fujam daqui se não quiserem Morrer!
II
Jimmy rapidamente sacou uma espingarda um pouco enferrujada que dava a impressão de já não funcionar mais.
-Para trás!-Esbravejou ele para os dois enquanto puxava o gatilho.
A criatura caiu no chão, se contorcia e urrava de dor enquanto os ali presentes observavam a uma das cenas mais nojentas que já presenciaram, a criatura arrancava pedaços de seu próprio corpo enquanto murmurava palavras que nenhum deles entendia:
- Acto causa mortis, mortis causa acto, acto causa mortis, mortis causa acto...-A criatura repetiu a frase algumas vezes antes de morrer.
-“Aquilo” morreu?- Perguntou Jean ao senhor que os acompanhava.
-Não, ela simplesmente voltou ao sótão da casa - Respondeu Jimmy com um pesado tom de voz.
-“Ela”? Então você sabe o que foi aquilo?
-O seu nome, era Fernanda Mordock. Ela foi usada em um ritual pagão que devorou sua alma, deixando o corpo para trás. Na época, eu era encarregado da autópsia dos corpos, quando ordenaram a busca pela cidade, fiquei sozinho examinando aquela estranha cena de crime, quando... – Ele parou por um instante, levou a mão à cabeça alisando seus cabelos e continuou – Quando Fernanda Mordock se levantou bem diante de meus olhos, me olhou com aqueles sinistros olhos vermelhos e me atacou com uma força descomunal, agarrei a primeira coisa que vi que por sorte era o atiçador de brasas da lareira e acertei a cabeça dela. Eu corri, corri com todas minhas forças até a entrada, contei o que acabara de ver aos meus superiores e não acreditaram em mim, inclusive me indicaram para seções psiquiátricas... Após isso, pesquisei sobre rituais, mortes inexplicadas e finalmente achei o que procurava, o ritual era usado para dar a quem o fizesse a vida eterna. Mas isso só era possível dando a alma de outra pessoa em troca.
-Nessa parte que Fernanda entrava? – Perguntou Jean, agora curioso.
-Precisamente, ele prendeu a esposa no chão com estacas, eu imagino que a mulher sofreu muito. Mas isso resultou em uma fusão entre a moça e a casa, ou seja, agora ela protege esta casa e tudo nela e não pode sair da casa até que sua hora chegue.
-Mas quando vai ser isso? – Dessa vez era o pai de Jean perguntando.
-O ritual dava a ambos a vida eterna, mas somente a um deles a sua alma.
-Mas então, como vamos detê-la? – Perguntou Jean
-Eu acho que uma boa opção poderia ser pesquisar pelas palavras que ela dizia. - concluiu Jimmy.
Os três rumaram para a Biblioteca Principal da cidade, chegando lá ao anoitecer. A biblioteca estava vazia e escura, um carpete vinho revestia o chão e um tom de azul pintado nas paredes. Os três dirigiram-se à ala de línguas antigas da biblioteca, Jimmy passou o dedo na fileira de livros até achar o que ele procurava, jogou o livro empoeirado sobre uma mesa de madeira com detalhes dourados e o abriu na parte da letra “M” e começou a folhear.
- Jimmy o que você... – Jean foi interrompido por um estrondo roso “AHÁ” que o velho soltara.
- Aqui está! Acto causa mortis, mortis causa acto, ou seja, Um Ato Por Causa da Morte leva a um ato que causa a morte.
- Mas o que significa?
- É um paradigma, significa que ela anseia por mortes para compensar a própria morte.
- Existe alguma forma de pará-la? – Desta vez, o curioso era o Pai de Jean.
- Ao que tudo indica cortar o mal pela raiz.
- Você diz...
- Subir ao sótão, onde fica o escritório e destruir o círculo.
- Mas este espírito vai guardá-lo com todas as suas forças não vai? – Disse Jean, interrompendo a linha de raciocínio dos dois.
Eles se viraram para encarar Jean quando algo chamou a atenção de Jimmy, treze morcegos estavam ali a observá-los.
- Muito bem, os dois falem baixo agora – disse ele quase murmurando para os dois.
- Por quê? – Perguntou Jean
- O espírito não pode deixar a casa, mas controla todos os animais e coisas que vivem na calada da noite.
Ao dizer isso, os morcegos que antes só os observavam passaram a atacá-los com dentes e unhas, Jimmy jogou uma pistola ao companheiro e disse:
- Faça o que for preciso!
Dito isso, ele começou a atirar nos morcegos juntamente com o pai de Jean. Em questão de minutos os morcegos já haviam morrido.
- Certo, conseguimos sobreviver contra estes, mas quem sabe o que ele pode mandar na próxima.
- Na próxima? – Indagou Jean – Nós mal sobrevivemos a um ataque! Como espera que sobrevivamos aos próximos?
- Devemos nos preparar melhor para os futuros ataques.
- Espere um instante, que outras criaturas o espírito controla? – Perguntou o Pai do Jean.
- Bom, ele controla morcegos, alguns cães, gatos, cavalos e até mesmo construções.
- Como assim, construções?
- Bem, eu já vi ele construir becos sem saída para a pessoa que ele persegue, até mesmo atirar tijolos soltos se a pessoa não tomar cuidado.
- Como é possível um espírito fazer tudo isso? – Perguntou Jean.
- Não sei bem ao certo, acho que o ritual o deu mais forças do que podemos imaginar.
Os três voltavam pelas escuras ruas, agora já à noite quando Jean se lembrou de algo:
- Pai, a mãe e o Ricardo já devem estar em casa agora!
- Oh meu Deus! É verdade! Como podemos esquecer disso?
- Esquecer do que? – Perguntou Jimmy.
- Minha esposa tinha levado meu filho menor para conhecer a cidade, e a esta hora já devem ter voltado!
- Então é melhor corrermos para lá, não sei o que o espírito pode fazer com eles se os pegar!
III
Os três homens corriam pelas ruas desertas de Ouro Preto às 00h00min, quando um relinchado os fez parar. Cinco cavalos com o pelo de cor negra e olhos vermelhos estavam bloqueando a passagem deles à rua enquanto avançavam vagarosamente.
Jimmy há esta hora já estava com sua espingarda em mãos, enquanto os outros dois estavam prontos para correr. Os cavalos começaram a avançar mais rápido agora, quando Jimmy deu seu primeiro disparo. O tiro foi preciso e eficiente, atingindo o coração do cavalo do meio e fazendo este cair sobre o cavalo ao lado. Os três cavalos restantes os cercavam agora, trotando em círculos.
Jimmy abriu a caixa de munição que carregava no bolso e gritou aos outros dois:
- Eu estou sem munição aqui! E quanto à vocês?
-Eu tenho só mais uma bala. Respondeu o pai de Jean.
- Ótimo, mande para cá.
O pai de Jean obedeceu sem hesitar, jogou a arma ao companheiro e este por sua vez a pegou.
Jimmy mirava em um dos cavalos quando um outro avançou sobre Jean.
Jimmy rapidamente mudou a direção da arma e desferiu um outro tiro perfeito no coração do cavalo.
Os cavalos agora, restando apenas dois, se posicionaram um a frente deles e um nas suas costas.
Sem saber o que fazer, Jean correu para a casa mais próxima e bateu à porta na busca de ajuda, mas ao fazer isto o cavalo da frente avançou sobre ele fazendo-o cair para trás.
Os outros dois homens correram para ajudá-lo, mas foram impedidos pelo outro cavalo, que agora bloqueava a passagem deles para a varanda.
O cavalo em cima de Jean soltou um longo relinchado seguido pela sua queda.
Sem saber o que acabara de acontecer, Jean observou o cavalo mais de perto.
O cavalo estava com uma pequena faca que fora jogada com precisão em seu olho.
Jean se virou para a porta, onde um homem de estatura mediana, roupa de motoqueiro, cabelos loiros e olhos castanhos.
O homem sacou uma K-47 e atirou no cavalo algumas vezes, mas diferente de Jimmy, este não atingia pontos vitais, ele atingiu a perna, a barriga, as costas e finalmente um tiro atingiu sua cabeça matando-o.
Feito isto, ele estendeu a mão para Jean dizendo:
- Você está bem?
- S-sim... Eu estou bem... Quem é você? – Disse Jean enquanto era erguido pelo estranho.
- Você pode me chamar de Fred... Posso saber o que aqueles cavalos faziam no meio da noite atacando vocês?
- Eu explico... – Disse Jimmy.
Jimmy explicou todo o ocorrido, desde o assassinato dos Mordock em 1965 até o que descobriram na biblioteca.
- Eu já tinha ouvido falar desse assassinato que tinha ocorrido trinta anos atrás, mas o resto é novidade para mim.
- Sim, e agora temos de encarar um fantasma semi-indestrutível, suas criaturas da noite e sem munição. – Dizia Jean, enquanto os outros três ali presentes se davam conta do problema.
- Munição eu posso lhes oferecer, e posso ir junto com vocês. – Disse Fred enquanto fazia sinal para os três entrarem. – Nós podemos partir amanhã quando estivermos mais descansados, já que de manhã as criaturas não podem nos atacar.
- Mas minha mãe e meu irmão estão naquela casa!
- Jean... É melhor assim. Não temos forças suficientes para lutar contra as criaturas dela, quanto menos contra o fantasma em si. – Dizia o pai de Jean enquanto colocava a mão no ombro do garoto fazendo menção para que ele entrasse.
A sala na qual eles entravam tinha um sofá grande, para seis pessoas, uma poltrona, uma lareira, uma espingarda em cima da lareira e um grande lustre dourado pendurado no teto.
- Bem vindos à minha humilde residência – Dizia Fred enquanto seguia para uma escada no canto da sala levando para o porão. – Venham por aqui, aqui tenho camas e munições.
Os três o seguiram pelas escadas à baixo e acabaram em uma sala com várias armas de vários tipos penduradas nas paredes de tijolos à mostra e alguns sacos de dormir no canto.
Fred caminhou até o canto onde os sacos estavam e estendeu três deles no chão.
- Vocês podem dormir aqui por hoje. Espere um pouco que vou arranjar algo para vocês comerem. – Disse ele enquanto subia as escadas novamente.
Jean percebera que não comia desde que chegara a casa onde tudo começou.
Os três esperaram cerca de quinze minutos ali quando Fred voltou com três pratos com dois Cheese Burgers em cada.
Cada um dos três pegou um prato e começaram a comer.
- Você parece gostar de caçar Fred... – Disse Jimmy enquanto observava as armas na parede.
- Bem, realmente eu caço um pouco de vez em quando.
Os homens conversaram mais um pouco em quanto terminavam de comer. Cerca de meia hora depois, os três já haviam terminado a refeição e entregado os pratos para Fred.
Fred subiu as escadas e desapareceu. Quando cerca de quinze minutos depois os três ouviram um grito que ecoou na casa inteira.
IV
Os três correram desesperadamente escada acima e se surpreenderam com a cena que viram:
Cães e Morcegos estavam atacando Fred, se agarrando nele com os dentes.
Jimmy pegou a K-47 que repousava sobre a poltrona e começou a atirar nos animais que atacavam Fred.Os animais por sua vez, começaram a atacar Jimmy e a deixar Fred de lado.
Fred se ergueu e correu para o porão chamando Jean e seu pai. Eles o seguiram.
No porão Fred jogou uma pistola para cada um, pegou uma para si e voltaram correndo para o térreo, onde Jimmy estava deitado no chão sangrando enquanto os animais o atacavam.
Os recém chegados começaram a atirar nos animais sem muita precisão, mas o suficiente para fazê-los recuar após algum tempo.
- Jimmy! – Gritava Jean.
- Acalmem-se! Tenho um kit de primeiros socorros no banheiro. – Disse Fred correndo casa adentro e voltando com uma caixa branca com uma cruz vermelha nas mãos.
Fred fez curativos em Jimmy e o colocou repousando no sofá.
- Como ele está? – Perguntava Jean.
- Eu não sou médico, mas acho que ele vai ficar bem até amanhã pela manhã. – Respondeu Fred.
Cerca de duas depois os três foram dormir. A noite estava fria e silenciosa. Jean demorou a dormir, mas quando o fez, sonhou que estava em sua casa, para der mais exato, na sala de jantar. O mesmo homem do último sonho prendia um homem mais velho que Jean em uma mesa, após o cara suplicar por piedade, o homem finalmente desprendeu o lustre do teto com uma chave de fenda. O lustre caiu perfeitamente na caixa torácica do homem preso à mesa, o silenciando de uma vez por todas. Novamente, Jean não conseguia se mexer, ele acordou com um pulo, assustado.
O dia raiava fora da casa, cerca de oito horas da manhã deduziu ele. Todos já estavam acordados, com a exceção dele.
- Bom dia, pronto para partir? – Perguntou Fred.
- Certo, vamos logo então. Só me deixe comer algo. – Respondeu ele.
Fred trouxe para ele um pão francês com manteiga e um pacote de bolachas recheadas. Jean as comeu em questão de cinco minutos e se aprontou para o que estaria por vir.
Os quatro desceram até o porão, cada um escolheu uma arma, pegaram munição e suprimentos e esconderam tudo em mochilas e de baixo das roupas.
As ruas estavam cheias de gente, bem iluminadas e mais calmas. Diferente da noite anterior. Os quatro andavam pacificamente pela calçada com a certeza de que eles não seriam atacados, o que de fato, aconteceu.
Ao chegarem a frente à casa, Jimmy falou:
- Muito bem, é chegada a hora cavalheiros. Todos prontos?
-Sim! – Responderam eles em tom uníssono.
- Então saquem suas armas e vamos.
Todos os quatro ficaram com suas armas prontas e marcharam em frente.
Jimmy abriu a porta com cuidado. Vários morcegos saíram da casa em pânico, os quatro passaram pela sala de visitas, subiram as escadas. No segundo andar Jean apontou para a corrente de metal pendurada no teto:
-Acho que é ali. -disse ele.
Sem dizer nada, Jimmy puxou a corda, que revelou uma escada embutida no teto.
-Estou com um mau pressentimento – Disse Fred.
- Mal é o que não sobra por aqui. – Acrescentou Jean.
- Parem de tagarelar e vamos logo! – Interrompeu Jimmy enquanto fazia sinal para avançarem.
O sótão estava totalmente empoeirado, cheio de móveis velhos e com uma porta à direita e uma janela à esquerda.
Jean se aproximou da extremidade contrária à porta e descobriu sua mãe e seu irmão amordaçados e presos.
-Aqui! Venham rápido! – Gritou ele.
Os outros três correram na direção dele.
-Ok. Esperem um pouco! – Disse Fred enquanto puxava uma faca do bolso e começava a cortar as cordas.
Fred já libertara a Mãe de Jean enquanto terminava de soltar Ricardo quando o grito da besta foi ouvido por todos.
-Fred, termine isso logo! – Gritou Jimmy com a arma em mãos.
-Estou tentando Droga! – Respondeu Fred quando finalmente a corda se rompeu.
Com um estrondo a escada se fechou na frente deles e Fernanda apareceu na porta para o escritório.
Jimmy disparou repetidas vezes contra a criatura, mas desta vez ela avançou nele, fazendo com que ele caísse no chão.
Fred atacou desesperadamente tentando salvar a vida do companheiro, quando a coisa levantou a mão.
Como por impulso todos ali menos Jimmy foram jogados para fora da janela, mas antes de tocarem o chão, a velocidade diminuiu e eles pousaram suavemente no chão.
-O que foi isso? – Perguntou Fred quase rouco.
-Não tenho certeza... – Disse Jean.
-Bom, é melhor irmos embora, está anoitecendo.
-Mas Jimmy está lá!
-Jean... Não podemos fazer nada por enquanto. – Disse seu pai enquanto voltavam para a casa de fred.
V
Ao chegarem à casa de Fred, Jean não disse uma palavra sequer, o som de seus pais conversando e de Fred preparando algo na cozinha o deixava mais calmo, o suficiente para cair no sono.
Em sonho, ele viu todos os antigos sonhos, os dois assassinatos, mas dessa vez era Jimmy quem matava os garotos, mas não era o Jimmy que ele conhecia, este estava mais jovem, coberto de sangue e com o olhar raivoso, Jean acordou estranhamente calmo, associando que a perda de Jimmy tivesse influenciado nos sonhos.
Assim que Jean se levantou seu pai lhe chamou para uma conversa:
- Jean... Eu e sua mãe conversamos, e achamos que é melhor se sua mãe você e seu irmão ficarem aqui por hora.
- Como? Você quer que eu fique aqui enquanto vocês dois podem morrer lá?
- Olhe, já chega de você fazer o que você quer! Está na hora de aprender a ter respeito por seus pais...
Ao dizer isso, um cavalo branco apareceu em frente a eles, e fez uma reverência a Jean, que por sua vez se aproximou e, sem nenhuma explicação montou o animal. No exato momento em que Jean Montou o animal este se transformou em um cavalo esquelético de olhos vermelhos e pelos negros, o cavalo disparou em direção a parede e ao atingi-la a atravessou como se não houvesse nada ali e rumou para a casa em que residia Fernanda.
- Mas... O que foi aquilo? – Disse Fred que acabara de entrar na sala.
- Acho que ela está nos atraindo. Mas infelizmente não temos como não ir lá. – Disse o pai de Jean com tristeza na voz.
- Acho bom nos prepararmos para tudo então. – Disse Fred enquanto descia as escadas procurando armas “muitas armas” pensou ele.
Não demorou a que Fred retornasse com pouco mais de quinze armas nas mãos, atirou algumas para o pai de Jean dizendo:
- Pegue, temos que ir agora! Não sei o que ela pode fazer com ele.
Ele obedeceu e antes que pudesse perceber, Fred estava à porta, se dirigindo para a casa.
- Espere! – Disse ele correndo para alcançá-lo.
Finalmente depois de três minutos de caminhada chegaram ao destino almejado.
Fred empurrou a porta, que dessa vez estava trancada.
- Ah droga, não queria ter que fazer tanto escândalo logo de cara. – Disse ele enquanto tomava distância e desferia um chute na porta, que se quebrou no meio com um estrondo.
Eles correram escada acima em direção ao sótão novamente, ao chegarem lá, se viram em um espaço totalmente branco, Jean estava montado no cavalo com os olhos totalmente brancos, e brandindo uma espada com ferrugem e amarelada. O cavalo começou a andar, e em um golpe Jean quase cortou a cabeça de Fred fora.
- Jean! – Gritava Fred – Jean pare! Acorde, não deixe ele te controlar!
O cavalo avançou novamente, e Jean conseguiu desferir um golpe na perna de Fred, suficiente para esta cair de lado.
Fred gritava de horror e de dor, enquanto o pai de Jean pulou no cavalo e arrancou o garoto dali. Ele arrancou a espada das mãos do garoto e a cravou no crânio do animal. Jean acordou horrorizado com a situação que Fred estava. Fred conseguiu se acalmar e estancar o ferimento ele próprio.
- Me desculpe, por favor, eu só lembro de ter olhado nos olhos do cavalo, e depois... – Disse Jean com uma das mãos na cabeça -... Depois nada, e então eu caí do cavalo como se tivesse acordado de um sonho...
- Tudo bem. – Disse Fred – Poderia ter sido muito pior, você poderia estar morto, ou ter me matado, em todo o caso estou bem. Mas... Olhem, a porta por aonde viemos simplesmente sumiu! – Disse ele se dando conta da situação
Antes que qualquer um percebesse, estavam de volta a casa, Fernanda estava à frente da lareira com seus dois filhos, contemplando o fogo como se fosse algo mágico para eles, quando Antônio entrou na sala, ele estava coberto de símbolos feitos de sangue e gritava para a esposa:
- Eu preciso que você vá ao sótão para uma conversa meu bem – Dizia ele com elegância -, Pode ir que eu já vou, só vou cuidar de algo aqui está bem? – Disse ele empurrando ela para as escadarias. Ela subiu a escada aterrorizada, o que o marido estava fazendo? E o que “cuidar de algo” significava? Estas perguntas circulavam na cabeça dela quando os gritos começaram gritos de dor vindos de o primeiro andar, ela subiu o último degrau e abriu a porta para o escritório correndo, e quando assim o fez se deparou com círculos e escritas que desconhecia, e todas escritas em sangue.
- Meu amoor – Ela ouviu o marido chamando do segundo andar – Eu tenho um presentinho pra vocêe.
Ela entrou dentro do armário que ali repousava e ficou mais quieta o possível, até que ouviu a porta do escritório se abrindo.
- Onde será que está você? – Disse ele se voltando para o armário. – Será que está aqui? – Disse ele abrindo o armário. Fernanda gritou em plenos pulmões para que ele a soltasse, mas ele continuou:
- Ora ora, eu tava te procurando, temos algo muito especial pra hoje.
De repente a visão se escureceu, e o ambiente voltou a ficar branco.
- Mas... O que foi isso? – Perguntou o pai de Jean.
- Acho que ela quer nos passar uma mensagem... – Disse Jean, quando eles se viram no sótão novamente, mas dessa vez sem um ruído se quer.
- Nós voltamos, mas eu ainda não entendi – Disse Fred.
- Bem, meu amigo, o que minha mulher quis dizer é que eu a matei, matei meus filhos e provavelmente também vou matá-los. – Disse a voz de Jimmy atrás deles.
Os três se viraram com uma rapidez extrema, talvez pela surpresa, talvez pelo susto, mas o fato que acabaram de ouvir parecia não entrar na mente deles, expressado por um “mas” de Jean.
- Na verdade é simples, não desconfiaram que eu soubesse demais do assunto? Não desconfiaram que eu soubesse de meios demais para impedi-la? Sim meus caros, sou Antônio Mordock, o assassino de tantos anos atrás. – Disse Jimmy com êxito – Como vocês vão morrer lhes contarei o porquê disto. Após fugir de Ouro Preto e de me estabelecer em Belo Horizonte, à polícia começou a se aproximar do meu paradeiro, logo tive que despistá-los, fingindo a minha morte. Quando voltei para cá, eu descobri que o espírito de minha amada residia na casa, eu tive que esperar por um grupo de idiotas para me ajudar. Agora que lhes resumi o trajeto todo até aqui, digam adeus. – Disse ele com indiferença erguendo – lhes a mão, quando os restos de Fernanda apareceram da escuridão e o agarrou, a coisa mordeu-lhe a nuca, fazendo sangue jorrar por todos os lados. Antônio gritava de raiva desferindo socos enquanto a criatura o comia vivo.
Aproveitando o momento de distração de seu perseguidor, Jean e seu pai carregaram Fred para o 1º andar e abriram a porta, o sol lhes atingiu a cara em cheio. Eles tinham escapado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário