sábado, 27 de novembro de 2010

Balada de Um Menino Sem Ritmo


II
BURRO BURRO BURRO, TRÊS VEZES BURRO, IMBECIL! FRACO! POR QUE NÃO CONSEGUI? ELE ESTAVA LÁ... ELE ESTAVA LÁ... Ele... Ele... Merda... Não posso chorar... Não posso... Se minha mãe me vir assim ela vai... Eu vou... Não...

***
Ok, acho que me acalmei... Um pouco... Eu... Eu... Não pude. Estava com o revólver na minha mochila, com tudo pronto... Esperei até que todos tivessem saído... Sabe, a carteira dele tinha sido sumida e ele tinha ficado para procurar... Ele estava lá, eu estava lá... Fui tirar o revólver da mochila, mas... Acho que é o que eu sou e o que vou sempre ser, FRACO, SUBMISSO, VEGETAL. Talvez eles tenham razão, talvez... Talvez se eu arranjar uma torradeira... Sim, ou morder um cabo elétrico de alta tensão... Talvez... Cortar os pulsos é bobagem, nunca que conseguiria fazer um corte fundo o suficiente para pegar uma artéria e, mesmo que conseguisse, meu pulso estaria tão ferrado que não poderia cortar o outro... Me enforcar também não é opção, se eu errar o nó... Também não quero entrar em coma por causa de uma overdose de remédios, então... Quem sabe um dia não tomo coragem? Um dia, talvez...
Já que estou aqui, acho que podíamos matar o tempo conversando, não? Não? Ah, então vou falar sozinho.
Engraçado... Incrível como nos filmes o ato de se matar alguém pode ser tão simples, não é? Quer dizer... É só apertar um botão e puf, acabou, sem ressentimentos, arrependimentos e hesitações... Sem dor do lado de quem puxa o gatilho, é sempre a mesma história do mocinho que quer vingança contra o bandido do mal, não é? Ah, mas existem filmes que a tratam com a seriedade devida, Sonho de Cassandra é um deles... Fala de dois irmãos, um precisa de dinheiro para investir nos negócios de um amigo, outro precisa pagar dívidas de apostas e eles vão pedir a grana pro tio, o tio libera, mas com a condição de eles matarem uma pessoa que atrapalha seus negócios... No filme inteiro somente são disparados três tiros, mas esses tiros valem mais do que três milhões de tiros disparados em qualquer outro filme. Hm... Três tiros... Isso me lembrou da minha primeira namorada... Sim, já tive namoradas, ok? Não precisamos fazer circo sobre isso, né? Agora que penso, começamos a namorar na sexta série também... Poxa vida, que diabos a sexta série tem? Se eu conseguir lembrar de mais alguma coisa vão ser três acontecimentos na 6ª... 666... Mas aquele ano foi mesmo um inferno? Não, não mesmo... O nome dela... O nome dela começava com L e era bonita, sim... Cabelo e olhos castanho claros e “magrelinha” como minha avó dizia... Caramba, eu gostava dela... O que ela viu em mim, não me pergunte, se já não sou bonito hoje, antes era menos ainda, uns 50 cm a menos e uns 20 Kg a mais. Era aula de... De... Alguma coisa, nós dois estávamos trocando mensagens, vou transcrever aqui a parte final:
“Você tem namorada?”
“Não, e você?”
“Também não.”
“...”
“Você quer namorar comigo? []Sim []Não”

Primeiro tiro. Sempre dou risada ao lembrar disso, depois dessa última, pra responder eu rasguei o começo e o fim da mensagem, ficando só o “Sim” no papel e mandei pra ela, eis o que aconteceu:
“Sim o quê?”
“À sua pergunta”
“Então estamos namorando?”

Não sei por que, mas me pareceu inteligente entregar o mesmo papel rasgado escrito “Sim” como resposta... Acho que já não batia bem naquela época.
Nosso namoro, se é que pode se chamar assim, se resumia a escutar meu discman atrás da escola, enquanto esperávamos a perua escolar... Talvez pareça coisa meio retardada, mas eu amava aqueles momentos. Continuamos nessa mesma rotina por um mês, na data exata resolvi pedir um beijo (mesmo um selinho que fosse).
- Não, ainda não, quero ver se gosto mesmo de você antes.
Não fiquei triste, muito pelo contrário, dessa forma, sabia que no dia em que ela me beijasse, ela teria certeza do que fazia, que eu seria o “escolhido”, por assim dizer. Por uma ou dias vezes no mês seguinte ela pensou em me dar o fora (Segundo tiro), primeiro uma semana, depois três dias, mas no final continuamos juntos. Um dia, quando íamos para os fundos da escola, ela me pediu um beijo (sim, um beijo!) de despedida. Foi um simples encontrar de lábios, mas aquilo já foi suficiente para me deixar nas nuvens. Uma semana depois ela apareceu para mim com um anel de casca de coco que só cabia no meu polegar e não me deixava dobrá-lo, mas usava o anel mesmo assim. Chegávamos ao final de Agosto, e eu temia que aquele beijo tivesse sido um fato isolado que nunca tornaria a se repetir. Decidi ir à luta. Um passeio para o Hopi Hari foi o evento escolhido, ali eu tinha que conseguir no mínimo mais um beijinho que fosse. Logo que descemos do ônibus, dei um jeito de despistar o resto do grupo, mas não percebi que junto despistara-a também. É patético, sei disso, tragicômico, até, mas havia me perdido dos meus amigos e de minha namorada. Passei metade do dia tentando encontrá-la, até que finalmente consegui. Fato estranho foi que na hora em que a encontrei, ela começou a dizer como três pessoas diferentes haviam tentado seduzi-la e como tinha sido fiel a mim. Até hoje não sei ao certo por que ela me disse aquilo... Talvez estivesse me testando, talvez aquela fosse a verdade simples, talvez, talvez, talvez, decidi que existem coisas na vida que são melhores quando deixadas de lado. Depois do estanho relato, me chamou para irmos a um brinquedo chamado “A Montanha Encantada”, que basicamente consistia de um barco que deslizava sobre trilhos submarinos e com música alegre. No caminho tentei segurar sua mão... Senti um arrepio em sua mão quando a toquei, e três segundos depois ela me puxava, me fazendo correr até o brinquedo.
O dia chegava ao fim, depois de tomarmos uma bruta chuva na corria até o ônibus, vi ali que meu dia havia terminado, e que minhas esperanças por afeto haviam sido frustradas.
No caminho de volta conversamos, mas nada sério somente bobagens. Não me lembro de nada importante na viagem de volta, o que realmente importou foi a espera por meus pais. Como já disse, estava chovendo, e muito, então buscamos abrigo em uma cabine de segurança. Ali, ficamos olhando um para o outro e conversando... Conversando... Ah sim, outro detalhe para a tragicomédia, não sei como, não sei por que, mas a maldita cabine de concreto ficava constantemente me dando choques, então fiquei assim, conversando, olhando para ela e tomando choques, até que ela chamou por mim e projetou seu corpo para frente. Como havia passado seis meses e não havia conseguido nada melhor que um beijo simples, achei que era isso que ela queria, mais um beijo simples, imagine agora minha felicidade quando ela ordenou(sim, ordenou) que eu beijasse direito. Beijei. Ah, ainda lembro daquele dia. Frio e eletrocutado, mas feliz como o diabo, tinha certeza ali que a partir daquele ponto as coisas iriam melhorar, mas para minha surpresa simplesmente voltaram ao que era antes. Agora já estávamos na 7ª série, entre agosto de um ano e março de outro só vejo uma ocorrência digna de menção. Ficávamos nós dois conversando pela internet frequentemente, até que certo dia após um elogio ou outro ela disse que me amava. Sabia o que devia responder, o que a convenção mandava, mas não sabia se era isso que sentia por ela. Acho que fiquei cerca de um minuto sem responder, até que ela resolveu chamar minha atenção e acabei digitando as malditas palavras.
Também te amo.
Dessa ocorrência até março mastiguei essas palavras, pensava nelas todos os dias, olhava para elas e para ela e tentava olhar para dentro de mim. Novamente, depois de repetir incessantemente algo para mim mesmo, me convenci de que aquilo era verdade. Convenci-me de que a amava. Na verdade, Ela me convenceu de que a amava. Chegamos a março, maldito março... Dizem que março é um mês feliz, onde é quente o suficiente para andar na rua de camiseta sem uma blusa, se é quanto à blusa que reclamam, não vejo porque não estão certos. Bem, março parecia um mês como qualquer outro de tantos outros que o precederam, ao meu ver, as coisas não estavam perfeitas, mas não estavam horríveis também. Estava feliz. Talvez pudesse estar mais, mas para aquele momento, era o suficiente. Direto ao ponto, assim como seu começo, o término do namoro se deu por meio de uma mensagem. A mensagem era:
“Nerd gordinho, Não quero mais namorar com você porque está muito chato”.
Simples, direta, mas por algum motivo não doeu tanto quanto achei que deveria doer. Achei naquele momento que ela tinha razão, que realmente o que fazíamos mais se aproximava a uma amizade simples do que de um namoro. Na hora, aceitei. Teria ficado tudo bem, se não fosse o que aconteceu exatos cinco minutos após a mensagem ser entregue a mim.
Cinco minutos, esse foi o tempo em que ela levou para sair da classe e encontrar F (Terceiro e último tiro). Sim, F! Não pude acreditar, mas ela estava realmente tentando fazer com que ele namorasse com ela. Não preciso dizer que se já tive raiva naquele momento, “Ele” só ajudou a aumentar essa raiva. Não se preocupe, F não chegou nem perto de ter algo com ela que não fosse amizade, acho que o pouco que lhe restava de respeito a mim não deixou-o consumar os atos. Não fiquei tão bravo com F, mas sinto que não fiquei tão irritado quanto devia com ela. Bastou vê-la com F para perceber que sempre que estávamos juntos, F estava por perto ou em algum lugar que pudesse nos ver, que aquela semana e aqueles três dias foram as exatas datas em que F brigara com a namorada, que ela só me usara, que eu havia sido um marionete mais uma vez e não tinha percebido. Percebi tudo isso, mas não tive raiva, interessante, não? Acho que afinal o Amor que cultivei foi tão forte que não me deixou ficar bravo com ela. Hoje, a vejo online, depois que ela saiu do colégio, a vi outras três vezes, três aniversários dela. Um desses, sua festa de 15 anos, dancei em seu baile, mais tarde soube que ela havia convidado F primeiro, mas que ele não havia aceitado.
Às vezes quando acho que não posso ser mais patético sempre me lembro de algo que me faz perceber que sou mais ainda... Será... Será que se eu conseguir que alguém me ouça... Será que consigo deixar de ser tão fraco? Duvido... Por outro lado, escrever isso está me fazendo bem, quer dizer... Sinto que estou tirando pesos e mais pesos das minhas costas... Suponho que pior que está não pode ficar... Ok, falei sem pensar, comigo TUDO pode sempre piorar... Quem sabe... Talvez eu fale com alguém... Talvez... Mas... Quem?

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