quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Um Conto de Natal

Caminhos. Vejo vários, mas para onde vou? (Para onde?)
Não quero continuar.
...                                                                                          Não Posso
Muita gente morreu, e foi por minha causa.
(?)                                       (Minha Causa?)
Talvez a culpa seja minha.
(Não é)                                      (Ou é?)                                                     (é).
O inferno começou com uma entrega.
A entrega começou o inferno.
(Mas quem entregou?)
O dia era 23 de Dezembro. Naquelas alturas a escola estava quase vazia, fui até lá para buscar minha lapiseira. Sei que é algo retardado, mas moro tão perto da escola... Além do que, adoro aquela lapiseira, “Mais de 100 000 cliques sem quebrar ou retroceder o grafite” dizia a capa (Não que eu fosse contar, mas enfim...) e, se a capa dava uma impressão fantástica daquele instrumento, quando comecei a usá-lo tive uma sensação melhor ainda, ponta de precisão que deixava marcas finas e consistentes e uma borracha convenientemente localizada na parte anterior do objeto que apagava qualquer coisa. Adoro aquela lapiseira. Sequer me lembro pra que fui buscá-la, mas sei que foi por isso que voltei à escola naquele dia. Como disse, a escola estava vazia com exceção do pessoal da limpeza. Entrei e fui direto ao meu armário, em questão de minutos já havia destravado e travado o cadeado novamente e montado em minha mountain bike. Dali, só era preciso contornar metade de um quarteirão e já estaria em casa (Disse que moro perto da escola), mas naquele dia específico decidi que pouparia 30 segundos da minha vida cortando caminho pelo parque que ocupava metade do bloco. (30 segundos, pois é)
Dada a data do ocorrido, não foi surpresa para mim que a praça estivesse vazia. Não. A surpresa real estava escondida em algo em cima de um dos bancos da praça.
Ela estava lá, sozinha e intocada. Uma bela caixa vermelha brilhante com uma fita dourada amarrada por cima dela. Ela tinha um cartão (Ah, aquele cartão), letras e borda douradas em um pedaço retangular de papel cartão, algo mais ou menos assim:



Estranhei aquilo, mas algo mais despertou junto com a estranheza. Aquilo despertou em mim Curiosidade (maldita).
Ah... se curiosidade matasse... (Ela mata, matou e matará)
Abri a caixa. Dentro, havia uma estatueta de ferro de um pequeno Goblin vestido como Papai Noel. Retirei-a da caixa, descobrindo que era absurdamente pesada para seu tamanho. Suas roupas eram feitas do que mais tarde descobri ser uma mistura de ferro e cobre que lhes davam um tom avermelhado, tudo feito à mão com muito capricho, mas o que chamava a atenção era a expressão do pequeno Goblin. Ele estava rindo, mas aquele riso não parecia natural, parecia algo desesperado, como se algo o estivesse aterrorizando. Aquilo começou a me angustiar, tive um ímpeto de jogar a estatueta longe e sair correndo, e quando estava a ponto de fazê-lo, algo no fundo dela me chamou a atenção. Um rubi do tamanho de um punho fechado incrustado na base reluzia à luz do pôr do Sol. Mas aquele rubi tinha algo mais... Não parecia estar simplesmente refletindo a luz do Sol, a coisa parecia ter um brilho próprio, como se algo dentro da pedra queimasse emitindo um círculo de luz. Para minha surpresa, conforme o Sol se punha, minha impressão parecia cada vez mais real e o rubi brilhava cada vez mais. Quando dei por mim, tudo em minha volta estava envolto naquele brilho vermelho.
Quis soltar aquilo, sair de perto, mas minhas mãos não respondiam. E a luz continuava a ficar cada vez mais forte.
Sentia que iria sufocar.
Cada Vez Mais Forte.
Senti minha garganta fechar.
CADA Vez Mais FORTE.
Quis gritar.
CADA VEZ MAIS FORTE.
GRITEI.
Escuro.

Acordei ali, no mesmo ponto onde havia parado minha bicicleta. Vou para casa. Alguém me diz que desapareci por três dias. Não lembro de onde estive. Levam-me para o hospital. “Perfeitamente normal” eles dizem. “Estresse” sugere um deles. Pareço o mesmo de antes, mas com a exceção de uma coisa. Nas costas de minhas mãos algo foi tatuado. Uma imagem que sempre me lembraria, mesmo que não estivesse ali. A cara daquele pequeno Goblin, para sempre em minhas mãos.
Volto para casa atordoado e confuso. Lembro de ter visto no jornal algo sobre três assassinatos ocorridos do outro lado da cidade. Todos aconteceram da passagem do dia 24 para o 25 até a tarde desse mesmo dia. Não me importava, agora queria voltar à praça e procurar aquela estátua, precisava saber se não estava ficando louco.
Procurei na praça e nos bancos, mas sem sinal dela, nem mesmo encontrei a caixa que a continha.
Antes que pude perceber, todos fizeram o que se espera numa situação dessas: Fingir que nada aconteceu e seguir com a vida.
Por quase um ano, realmente consegui seguir com a vida, até que no dia 23 de dezembro, quando entrava em meu quarto, percebi algo a mais ali: Ela estava lá. Olhando para mim. Dessa vez bastou o olhar, já comecei a gritar. A porta se fechou atrás de mim. Em desespero, tentei correr para a janela, mas antes de chegar a ela a luz me pegou novamente.
CADA VEZ MAIS FORTE.
Acordei novamente no banco da praça no dia 26 de dezembro. Dessa vez todos à minha volta começaram a achar que eu estava fazendo uma brincadeira sem graça com eles, decidiram que eu estava de castigo por um ano, “Para largar mão de ser idiota” disse meu pai. O jornal dizia que os eventos do ano anterior haviam se repetido, com nove assassinatos dessa vez.
O ano que se seguiu não foi tão normal quanto o anterior. Posso jurar que vi o Goblin por três ou quatro vezes olhando para mim nas esquinas e pela janela da sala de aula. Minhas notas começaram a abaixar no mesmo ritmo em que minha mente descia pelo ralo.
Chegamos ao fatídico dia 23 de Dezembro. Naquele ano meus pais decidiram que não tolerariam mais gracinhas e trancaram toda a casa. Erro fatal. Literalmente. Dessa vez, a estátua estava na cozinha. Pela terceira vez apaguei e acordei no dia 26 na praça próxima a minha casa. Dessa vez algo mais aconteceu. Dessa vez, dezessete assassinatos tiveram lugar em minha cidade. Meus pais e meus irmãos entre eles. Todos achavam que eu tinha tido o mesmo destino que os outros, ou seja, garganta cortada e “Feliz Natal” escrito à ponta de faca no tórax e abdômen. Não. Estava vivo.
Até então, não havia pensado na possibilidade daqueles assassinatos estarem ligados às minhas desaparições anuais, a polícia também não. Não soube explicar porque não estava em casa nos dias 24 e 25. Não soube explicar onde estive nesse período. Não soube explicar porque estava vivo.
Sem provas, tiveram que me deixar ir. Fui morar com meus avós em outra cidade. Agora, via aquele maldito Goblin cada vez mais e, alguns anos depois, comecei a vê-lo em todo lugar. Vejo ele agora, no canto da sala olhando para mim, esperando sua hora de agir. Claro que depois do meu quarto desaparecimento e de mais vinte e dois assassinatos da mesma forma terem ocorrido nos dias 24 e 25 de dezembro a polícia resolveu me prender e me levar ao tribunal. Culpado disseram.
Supostamente agora que estava preso, não poderia machucar mais ninguém, certo? É, também achei isso. Por isso, quando o Goblin apareceu para mim na pia de minha cela, me deixei ser controlado. Para minha surpresa, tudo ocorreu da mesma forma, acordei no mesmo lugar de sempre e cada vez mais pessoas eram mortas.

Fugi.

Faz treze anos que minha história começou, mas está na hora dela acabar. Hoje é dia 22 de dezembro, não vou deixar o Goblin me alcançar dessa vez. Dessa vez somente uma pessoa vai morrer.











CADA VEZ MAIS FORTE.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Balada de Um Menino Sem Ritmo


VII
Hoje fui ao enterro de um paciente. Ele se chamava Acácio.

Ele tinha um pouco de mim dentro dele.

Ele é uma pessoa que eu poderia ter sido.

Ele é a pessoa que eu teria sido.

Hoje peguei alguns textos antigos que escrevi e me lembrei do por que de minha profissão, para ajudar.

Hoje eu falhei.

Balada de um Menino Sem Ritmo

Balada de Um Menino Sem Ritmo


Coletânea de Textos de Acácio Cecil III
Inútil, imbecil, retardado.
Ninguém me entende.
Achava que as coisas se acertariam mais cedo ou mais tarde, mas vejo que estava errado. Tentei me aproximar, tentei mudar, mas ninguém quis me escutar. Ninguém quis. Meus pais continuam brigando comigo, mesmo depois de tudo aquilo, mesmo depois de várias sessões com Celso. Eles não querem me entender, é isso.
Na escola tentei falar com as pessoas, mas parece que tudo que vêem quando olham para mim é... Nada. Simplesmente nada.
Por que o mundo me detesta? Por que o mundo não me dá uma chance? PORQUE NINGUÉM ME RESPONDE? ALGUÉM!
Ninguém responde. Ninguém quer responder. Ninguém vai responder.


Cansei.

Balada de Um Menino Sem Ritmo


VI
Mais um dia nasce e com ele o sentimento que tudo vai continuar a mesma coisa finalmente começa a mudar. Faz tempo que não escrevo aqui, alguns meses na verdade, mas sinto que melhorei. Onde tinha parado mesmo? Nossa, faz um tempão mesmo, não é? Bom, acho que tenho que explicar como as coisas começaram a melhorar, diabos, acho que até consigo escrever melhor agora!
Bom, de onde parei estava sozinho e sem ninguém, não? Bom, não sei se agora posso dizer que “tenho” alguém, mas talvez “protótipos de posse”? Não sei se consigo me explicar muito bem aqui... Enfim.
Uma coisa que sempre gostei na minha escola nova é a ausência de trabalhos, nunca gostei de fazê-los, especialmente quando tinha que fazer cartazes, sim pode rir, não sei fazer um cartaz decente. De qualquer forma, fiquei sabendo que teríamos um trabalho a fazer sobre Machado de Assis, tenho que dizer, que cara mais CHATO. Seria nosso único trabalho do ano e contaria pontos para as médias finais de todas as matérias e sem chances de algum professor me deixar fazê-lo sozinho.
“Como arranjar um grupo?”, só pude pensar nisso quando ouvi sobre o trabalho. A escolha óbvia era esse cara, L, não é legal falar isso, mas como ele é deficiente tanto físico quanto mental as pessoas não falam com ele, muito menos fazem grupo com ele. Eu falo com ele... Às vezes... De qualquer forma... Aproveitei-me da situação dele, não é legal dizer, mas foi isso que fiz. Formamos grupo, mas ainda assim precisávamos no mínimo de mais uma pessoa. Foi aí que P surgiu. A história de P não é longa e não é complicada, só é... Imbecil, só. No começo ela era mais uma aluna como qualquer outra, nada de especial e nada contra, só as roupas que ela usava que, para dizer o mínimo, chamavam a atenção dos meninos da sala, até que certo dia em uma de suas brincadeiras habituais acertaram-lhe um pedaço de giz na cabeça, e em vez de falar com as pessoas que jogaram o giz ela foi para a coordenação. Pronto, fim da história, do nada ela conseguiu fazer com que a maioria da classe desenvolvesse um sentimento de repulsa por ela. E eu me aproveitei disso. Não acho legal falar dessas coisas, mas hey, não posso dizer que foi sempre o mundo contra mim, sei que também fiz coisas que não deveria ter feito, mas fiz. De um jeito ou de outro precisava me sentir melhor. Assim o grupo se formou. Depois do trabalho, L voltou a seu exílio, mas eu e P começamos a conversar. Nada muito profundo, mas pelo menos era alguém com quem falar. Aqui começou minha reabilitação à sociedade se assim quiser chamar. P não está diretamente ligada ao que vou contar a seguir, mas ela foi sim importante, ela foi responsável por me fazer acreditar que não precisava me isolar do mundo, que era possível viver ignorando certas coisas.
Dito isso, vamos ao que interessa. Aula de redação. Sempre achei essa a aula mais fácil, sempre teve facilidade para escrever, sempre acabei os textos cerca de meia hora antes de a aula acabar. Que surpresa, esse dia não foi diferente. Estava eu lá, lendo... Qualquer coisa quando acabei ouvindo a conversa da professora com uma aluna. A verdade é que sempre fiz isso, mas naquele dia em especial algum tipo de entidade baixou em mim e pulei na conversa. Honestamente sequer lembro do que falavam, sei que o sinal bateu, a professora se foi, mas ficamos conversando. Assim, P sai de cena e entra N. Aqui acabamos ficando um pouco mais íntimos. Sei que a lacuna foi de meras semanas, mas tivemos melhores conversas nessas semanas do que nunca tinha tido com P. Eu desconfiava de que N gostasse de mim, mas nunca arranjei coragem suficiente de perguntar, acabei esperando que outros perguntassem por mim.
Minha vida parece um filme de zumbis, quanto mais você pensa que aquela pessoa nunca mais vai voltar e que nunca mais vai vê-la, ela aparece como zumbi. Mais tarde vão entender essa comparação.
Dia comum, conversávamos como de costume quando um zumbi surgiu. A menina era do grupo antigo que havia se formado nos primeiros meses de aula, uma das únicas que ficou com “Ele” até hoje, aliás. Enfim, aparece o zumbi e faz a fatídica pergunta, “Vocês tão namorando?” Parece uma pergunta simples, mas é incrível o estrago que ela faz. Respondi como quem não quer nada um “não” seco, mas senti que N ficou meio... Estranha. Ela ficou estranha, ficou muito estranha, aliás. As conversas foram diminuindo o ritmo pouco a pouco, e acabei começando a conversar com as amigas dela. Eram quatro, mas nesse momento tenho que parar e explicar um ou outro ponto. Das quatro, eu conhecia duas de episódios anteriores, mas por algum motivo não havia falado com elas até então. Uma delas, Tha, havia feito crisma comigo. Nós conversávamos relativamente bastante, mas como não trocamos e-mail ou orkut ou qualquer coisa dessas, a amizade acabou junto com a crisma. A outra, Tu... Bem, sinto que essa é um pouco mais complicada. Que rufem os tambores senhoras e senhores, mais um capítulo de a vida patética de um nerd patético está prestes a começar! Episódio de hoje: Paixão Patética na patética terceira série. Nossa patética história começa num patético primeiro dia da terceira série. O pequenino nerd patético olhava em volta, procurando patéticas pessoas para serem seus patéticos amigos. Viu uma pessoa. Ela não era patética. Infelizmente, ele era. Não conseguiu se aproximar, pelo contrário, acabou indo para o outro lado da sala. Assim o nerd começou sua longa jornada de observação à distância, cada vez mais crescendo em si o sentimento de paixão platônica junto com aquela patética timidez asfixiante que lhe tirava qualquer chance de articular palavras frente a alguma pretendente. A mesma pateticagem que lhe rendeu sua primeira namorada também lhe rendeu o primeiro e patético fora. Sabe, escrever para ele era tão mais fácil do que falar... Na verdade ainda é, mas isso não vem ao caso. O que vem ao caso é que ele mandou um bilhete para ela onde ele explicava até onde uma criança de terceira série conseguia explicar o que sentia por ela. Ele lembra dessa cena até hoje. A escola tinha três pátios, um desses ficava ao lado de uma escada que levava ao único andar superior. Ele costumava ficar em baixo dessa escada observando-a, e nesse dia em que decidiu mandar o bilhete estava observando-a daquele ponto. Primeiro ela pegou o bilhete, olhando para a mensageira com cara de dúvida. Depois ela abriu o bilhete, curiosa. Sentiu o odor de coisa patética naquelas palavras, rasgou-o e jogou-o no lixo. Nosso pobre nerd patético ao ver aquilo sentiu... Sentiu a dor do primeiro e patético fora dado por alguém não patético. E aquela pessoa não patética que havia lhe dado o primeiro fora agora ressurgia ali à sua frente. Lembrava ou não lembrava? Tinha medo de perguntar, tinha medo de saber a resposta. Assim fingiu que não lembrava e continuou a vida. Não deixem de sintonizar na próxima semana para verificar mais um capítulo d’A Vida patética de um nerd patético! Esperamos-te lá!
É... Acho que isso resume bem... e lá estavam elas, mais em específico ela. Prometi a mim mesmo duas coisas, primeiro: Nunca tocaria no assunto da terceira série e segundo: Nunca deixaria que aquilo acontecesse novamente, não importasse o que acontecesse. Tentei me focar em outra pessoa, R, tentar me esquecer do que havia passado porque afinal já era passado. R era... Ou é... Bom, na verdade não sabia nada sobre ela na época, basicamente o que vi foi uma garota bonita com quem tentaria alguma coisa. Passei os meses finais de aula me perguntando como faria para falar com ela e como ela reagiria... Essas duas perguntas sempre me assombraram, mas um dia por esses sites quais querem da internet alguém me recomendou simplesmente que não pensasse, que na hora tudo seria colocado pra fora. Honestamente eu temia que “tudo” significasse meu fígado. De qualquer forma, decidi que falaria com ela. Mas quando? Meninas têm um sério problema que viria a descobrir: As malditas sempre andam em grupo, nunca se tem uma brecha para falar com uma delas a sós e se tal oportunidade ocorre, sempre é com a menina errada. Nesses tempos, por duas vezes acabei sozinho com Tu, em ambas me lembrei da promessa que havia feito, mas... Pois é... É uma merda como algumas meninas não deixam nunca de serem bonitas para certas pessoas, e no passo que a conhecia melhor, acabava gostando cada vez mais dela e menos de R. Mas não! Não podia deixar aquilo acontecer de novo.
Os dias passaram e o último dia de aula chegou. Era um dia de prova e finalmente minha chance surgiu. Chamei-a, engasguei, respirei. Perguntei se queria sair, tomar um sorvete, sei lá... “Não sei”. Essa foi a resposta dela. Disse isso e simplesmente se virou e continuou andado. Que diabos significa? Não sei! Será que quer dizer “Não quero te dizer não, mas... não” ou “Não é um sim, mas também não é um não...” ou mesmo “não sei”! Dúvida! Inferno, e agora? Que fazer? Que fazer...? Nada... Na verdade não sei... Não sei se devo insistir... Acho que... Acho que vou tentar outras opções...

Opções.


Que caralho, opções, quem quero enganar? Acho que gosto mesmo é da Tu... Mas... E agora?

Ah, acho que não vou mais escrever isso aqui... Não acho que tenha muito mais do que falar. Acho que vou guardar isso para me lembrar do que eu já fui um dia. Pra me lembrar de como não proceder na vida.



Celso Machiavel, 15 de Janeiro de 2009.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Balada de Um Menino Sem Ritmo

 CTAC II
“ Que é isso?” Ela pegunta. “Nada”, eu respondo. “Deixa eu ver” Continua. “Acho melhor não”. Ela lê. Diabos, eu disse que era melhor não ler... “Você sabe o que é isso? Isso pode ser uma daquelas coisas que os CSI descobrem na casa do assassino depois dele matar o inocente que passava na frente dele!” Me irritei. Nem sei o que falei, sei que não deve ter sido legal visto que ela começou a gritar mais ainda comigo. Piorou quando meu pai chegou. “Acho que ele deve ter algum tipo de problema” “Talvez tenha mesmo, mas o que vamos fazer?” “Podemos procurar ajuda, seu primo trabalha naquela... Instituição não é?” Não fiquei pra ouvir mais, não sei nem se tranquei a porta, pensando bem...
Agora estou andando por essas ruas, ainda está meio claro, os postes ainda não acenderam. Vou sentar aqui no meio fio um pouco... Por que as pessoas nunca ligam pra mim quando quero que liguem e não conseguem me deixar em paz quando eu quero? Que saco isso. Talvez um “eu” meu numa realidade paralela onde tudo acontece ao contrário seja a pessoa mais feliz do mundo. Ah... Essa realidade deve ser legal... As pessoas falariam comigo, eu teria várias garotas que gostassem de mim e pais que me entendessem. Que coisa, não é...?
Ta esfriando... Minha boca ta soltando fumaça até... Ah... Aonde eu vou agora? Não posso voltar pra casa, mas também não posso ficar aqui... Acho que vou ter que ir pro consultório do doutor Machiavel... Acho que ele não vai estar lá hoje, então não deve ter tanto problema assim eu ficar lá só um pouco.
Bom, acho que agora eu ferrei de vez com tudo, não é?
...
É.
...
Acho que vou acabar em um daqueles Hospícios tipo o de Arkham... Bom, talvez eu encontre o Coringa lá, haha... É, acho que não...
Hm, estranho, a luz ta acesa? Será que o doutor atende na parte da noite também?
Campainha.
“Que você ta fazendo aqui?” A secretária? O doutor ta aqui? “O doutor não atende na parte da noite, vim aqui... só pra... pra... pegar meu casaco.” “Quem é?” Tem mais alguém aí? “É meu namorado, nós íamos sair depois daqui” Posso ficar aqui um pouco? “Pode, só vou chamar o Doutor.”
O Doutor... O todo poderoso doutor que vem salvar o pobre e indefeso jovem das garras do mal, não é?

***
Ele me pergunta o que aconteceu, eu respondo. Ele fala algo do tipo “Não se preocupe, eles não podem fazer isso”. Ele diz que ele tem registros meus... Tudo se resume a esse momento, pessoal, agora é a hora de abrir o jogo, não é? Mas como explicar para sua mãe que você estava vendo um psicólogo sem que ela nem ao menos suspeitasse?
Ele me traz um café. O troço tem gosto de lama, mas é algo quente nesse frio chato. Ele fala que vai pedir para falar com minha mãe e que vai comigo de volta a minha casa. Acho que para ele sou um tipo de cachorro que ele precisa domesticar. Talvez eu seja mesmo.
“Quem é você?” Ela pergunta, ele responde. “Psicólogo? Meu filho não vai a psicólogo nenhum.” “Na verdade eu e seu plano de saúde discordamos de você...” e ele explica. Ela chora. Eu choro. Ele não. Ele fala. Nós escutamos. Ela entende... Isso sim é um milagre. Ele explica que pediu que eu escrevesse aquilo. “Válvula de Escape” ele diz. “Confissões” ela pergunta. “Desabafos” ele responde. “Inofensivos”, completa. Ela se convence, mas não muito. Mas se convence.
Tudo se acerta em termos. Continuo visitando ele para as consultas, mas agora ela virá em algumas.














Tudo






Se





Acerta.

Balada de Um Menino Sem Ritmo

V
Lá Lá Do Do Mi Mi Mi / Lá Lá Dó Dó Mi Mi Mi menor.
- Saco, o dedo escapou.
- Tudo bem, vai de novo. A música é sua, ninguém mandou trazer um troço desses.
Realmente, o trabalho é meu, mas que seja, vou conseguir tocar essa porcaria.
- Dia Perfeito... Pára na esquina e diz good-bye, Flutua como uma nuvem, she really Have a groovie...
-Tá, essa parte ta tranqüila, vamos ver aquele solo, sim?
Aquele solo... Incrível como solos podem ser muito mais fáceis do que a música em si. Que horas são...? 19:50, ok, mais dez minutos e tenho que voar daqui pra encontrar o pessoal.
- Você ta perdendo o ritmo, você só muda a mão esquerda, a direita não pode deixar o ritmo cair. Isso. Só não precisa esfarelar a palheta, pega mais leve aí.
- Certo.
Ritmo, ritmo, ritmo...

SHE’S GOT HER HALO AND WINGS, HIDDEN UNDER HIS EYES
- Droga, desculpa professor, é do consultório, tenho que atender. – Estranho, não era pra ter ninguém lá – Alô?
- Alô... Doutor? – Lu?
- Lu? Que aconteceu? Porque você ta no consultório?
- Doutor, aquele menino... Acácio, ele veio aqui e...
- Caco? Ok, eu vou pra aí já. Daqui a uns vinte minutos to chegando aí, falou. – Ok, que merda que aconteceu agora?
- Aconteceu alguma coisa?
- Ãhn, nada grave... Espero, é só um paciente que veio pro consultório e... Na verdade não entendi bem... Tem problema se pararmos por aqui hoje?
- Se é algo urgente, acho que não tem problema.
- Obrigado e desculpa, até semana que vem. – Guardar esses cabos e esse caderno de qualquer jeito aqui, a guitarra por cima e vamos lá. Cadê as chaves do carro? Ah, no meu bolso.

***
- Lu, que aconteceu?
- Eu vim aqui pegar o casaco que eu tinha esquecido e o menino tava aí na calçada. Achei melhor te chamar porque... Bom, o paciente é seu, né? Eu podia acabar falando alguma coisa errada ou...
- Ok, você pode ir, eu falo com ele.
Não enganemos ninguém, sim? Já sabia faz algum tempo que Lu vinha usando meu consultório como quartinho particular dela e do namorado, mas ainda não consegui provar nada, esse papinho de “Falar alguma coisa errada” é só falação pra ver se eu a deixo ir embora daqui, assim ela estaria contribuindo pra melhora do paciente indo embora. De qualquer forma, eu finjo que engulo a historinha barata e espero até instalarem as câmeras de segurança.
- Obrigadinha, doutor.
“Obrigadinha” o escambau... Bom, agora vamos ver o que acontece.
- Caco? Que aconteceu?
- Celso... Minha mãe me viu escrevendo minhas coisas e... A gente brigou... Ela leu e querem me mandar pra um tipo de instituição mental, nem sei o que é isso bem ao certo, mas no fim eu acabei fugindo...
- Ok, muita calma, para te internarem numa instituição dessas é nessessário que um médico que esteja te acompanhando solicite que isso ocorra ou que você mesmo o faça, acho que você não quer se internar e eu, como seu médico, não vejo necessidade de uma internação.
- Você? Mas ela não sabe que eu venho aqui e...
- Mas eu tenho seus registros aqui, se quiserem ainda posso apresentar meus pareceres para serem analisados por outro psicólogo e até mesmo por um psiquiatra, duvido que qualquer um deles veja em você uma ameaça. Agora... Que tal entrar um pouco e se acalmar? Eles devem estar preocupados com você, mas não sei se seria bom para você voltar agora, aposto que eles ainda estão bravos com você.
- Acho que sim, né?
- Pois é... Bom, entra aí, vou pegar um café pra você.
Pois é... O pessoal vai me desculpar hoje, não vai dar pra ir.