quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Balada de Um Menino Sem Ritmo

V
Lá Lá Do Do Mi Mi Mi / Lá Lá Dó Dó Mi Mi Mi menor.
- Saco, o dedo escapou.
- Tudo bem, vai de novo. A música é sua, ninguém mandou trazer um troço desses.
Realmente, o trabalho é meu, mas que seja, vou conseguir tocar essa porcaria.
- Dia Perfeito... Pára na esquina e diz good-bye, Flutua como uma nuvem, she really Have a groovie...
-Tá, essa parte ta tranqüila, vamos ver aquele solo, sim?
Aquele solo... Incrível como solos podem ser muito mais fáceis do que a música em si. Que horas são...? 19:50, ok, mais dez minutos e tenho que voar daqui pra encontrar o pessoal.
- Você ta perdendo o ritmo, você só muda a mão esquerda, a direita não pode deixar o ritmo cair. Isso. Só não precisa esfarelar a palheta, pega mais leve aí.
- Certo.
Ritmo, ritmo, ritmo...

SHE’S GOT HER HALO AND WINGS, HIDDEN UNDER HIS EYES
- Droga, desculpa professor, é do consultório, tenho que atender. – Estranho, não era pra ter ninguém lá – Alô?
- Alô... Doutor? – Lu?
- Lu? Que aconteceu? Porque você ta no consultório?
- Doutor, aquele menino... Acácio, ele veio aqui e...
- Caco? Ok, eu vou pra aí já. Daqui a uns vinte minutos to chegando aí, falou. – Ok, que merda que aconteceu agora?
- Aconteceu alguma coisa?
- Ãhn, nada grave... Espero, é só um paciente que veio pro consultório e... Na verdade não entendi bem... Tem problema se pararmos por aqui hoje?
- Se é algo urgente, acho que não tem problema.
- Obrigado e desculpa, até semana que vem. – Guardar esses cabos e esse caderno de qualquer jeito aqui, a guitarra por cima e vamos lá. Cadê as chaves do carro? Ah, no meu bolso.

***
- Lu, que aconteceu?
- Eu vim aqui pegar o casaco que eu tinha esquecido e o menino tava aí na calçada. Achei melhor te chamar porque... Bom, o paciente é seu, né? Eu podia acabar falando alguma coisa errada ou...
- Ok, você pode ir, eu falo com ele.
Não enganemos ninguém, sim? Já sabia faz algum tempo que Lu vinha usando meu consultório como quartinho particular dela e do namorado, mas ainda não consegui provar nada, esse papinho de “Falar alguma coisa errada” é só falação pra ver se eu a deixo ir embora daqui, assim ela estaria contribuindo pra melhora do paciente indo embora. De qualquer forma, eu finjo que engulo a historinha barata e espero até instalarem as câmeras de segurança.
- Obrigadinha, doutor.
“Obrigadinha” o escambau... Bom, agora vamos ver o que acontece.
- Caco? Que aconteceu?
- Celso... Minha mãe me viu escrevendo minhas coisas e... A gente brigou... Ela leu e querem me mandar pra um tipo de instituição mental, nem sei o que é isso bem ao certo, mas no fim eu acabei fugindo...
- Ok, muita calma, para te internarem numa instituição dessas é nessessário que um médico que esteja te acompanhando solicite que isso ocorra ou que você mesmo o faça, acho que você não quer se internar e eu, como seu médico, não vejo necessidade de uma internação.
- Você? Mas ela não sabe que eu venho aqui e...
- Mas eu tenho seus registros aqui, se quiserem ainda posso apresentar meus pareceres para serem analisados por outro psicólogo e até mesmo por um psiquiatra, duvido que qualquer um deles veja em você uma ameaça. Agora... Que tal entrar um pouco e se acalmar? Eles devem estar preocupados com você, mas não sei se seria bom para você voltar agora, aposto que eles ainda estão bravos com você.
- Acho que sim, né?
- Pois é... Bom, entra aí, vou pegar um café pra você.
Pois é... O pessoal vai me desculpar hoje, não vai dar pra ir.

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