segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Balada de Um Menino Sem Ritmo


VI
Mais um dia nasce e com ele o sentimento que tudo vai continuar a mesma coisa finalmente começa a mudar. Faz tempo que não escrevo aqui, alguns meses na verdade, mas sinto que melhorei. Onde tinha parado mesmo? Nossa, faz um tempão mesmo, não é? Bom, acho que tenho que explicar como as coisas começaram a melhorar, diabos, acho que até consigo escrever melhor agora!
Bom, de onde parei estava sozinho e sem ninguém, não? Bom, não sei se agora posso dizer que “tenho” alguém, mas talvez “protótipos de posse”? Não sei se consigo me explicar muito bem aqui... Enfim.
Uma coisa que sempre gostei na minha escola nova é a ausência de trabalhos, nunca gostei de fazê-los, especialmente quando tinha que fazer cartazes, sim pode rir, não sei fazer um cartaz decente. De qualquer forma, fiquei sabendo que teríamos um trabalho a fazer sobre Machado de Assis, tenho que dizer, que cara mais CHATO. Seria nosso único trabalho do ano e contaria pontos para as médias finais de todas as matérias e sem chances de algum professor me deixar fazê-lo sozinho.
“Como arranjar um grupo?”, só pude pensar nisso quando ouvi sobre o trabalho. A escolha óbvia era esse cara, L, não é legal falar isso, mas como ele é deficiente tanto físico quanto mental as pessoas não falam com ele, muito menos fazem grupo com ele. Eu falo com ele... Às vezes... De qualquer forma... Aproveitei-me da situação dele, não é legal dizer, mas foi isso que fiz. Formamos grupo, mas ainda assim precisávamos no mínimo de mais uma pessoa. Foi aí que P surgiu. A história de P não é longa e não é complicada, só é... Imbecil, só. No começo ela era mais uma aluna como qualquer outra, nada de especial e nada contra, só as roupas que ela usava que, para dizer o mínimo, chamavam a atenção dos meninos da sala, até que certo dia em uma de suas brincadeiras habituais acertaram-lhe um pedaço de giz na cabeça, e em vez de falar com as pessoas que jogaram o giz ela foi para a coordenação. Pronto, fim da história, do nada ela conseguiu fazer com que a maioria da classe desenvolvesse um sentimento de repulsa por ela. E eu me aproveitei disso. Não acho legal falar dessas coisas, mas hey, não posso dizer que foi sempre o mundo contra mim, sei que também fiz coisas que não deveria ter feito, mas fiz. De um jeito ou de outro precisava me sentir melhor. Assim o grupo se formou. Depois do trabalho, L voltou a seu exílio, mas eu e P começamos a conversar. Nada muito profundo, mas pelo menos era alguém com quem falar. Aqui começou minha reabilitação à sociedade se assim quiser chamar. P não está diretamente ligada ao que vou contar a seguir, mas ela foi sim importante, ela foi responsável por me fazer acreditar que não precisava me isolar do mundo, que era possível viver ignorando certas coisas.
Dito isso, vamos ao que interessa. Aula de redação. Sempre achei essa a aula mais fácil, sempre teve facilidade para escrever, sempre acabei os textos cerca de meia hora antes de a aula acabar. Que surpresa, esse dia não foi diferente. Estava eu lá, lendo... Qualquer coisa quando acabei ouvindo a conversa da professora com uma aluna. A verdade é que sempre fiz isso, mas naquele dia em especial algum tipo de entidade baixou em mim e pulei na conversa. Honestamente sequer lembro do que falavam, sei que o sinal bateu, a professora se foi, mas ficamos conversando. Assim, P sai de cena e entra N. Aqui acabamos ficando um pouco mais íntimos. Sei que a lacuna foi de meras semanas, mas tivemos melhores conversas nessas semanas do que nunca tinha tido com P. Eu desconfiava de que N gostasse de mim, mas nunca arranjei coragem suficiente de perguntar, acabei esperando que outros perguntassem por mim.
Minha vida parece um filme de zumbis, quanto mais você pensa que aquela pessoa nunca mais vai voltar e que nunca mais vai vê-la, ela aparece como zumbi. Mais tarde vão entender essa comparação.
Dia comum, conversávamos como de costume quando um zumbi surgiu. A menina era do grupo antigo que havia se formado nos primeiros meses de aula, uma das únicas que ficou com “Ele” até hoje, aliás. Enfim, aparece o zumbi e faz a fatídica pergunta, “Vocês tão namorando?” Parece uma pergunta simples, mas é incrível o estrago que ela faz. Respondi como quem não quer nada um “não” seco, mas senti que N ficou meio... Estranha. Ela ficou estranha, ficou muito estranha, aliás. As conversas foram diminuindo o ritmo pouco a pouco, e acabei começando a conversar com as amigas dela. Eram quatro, mas nesse momento tenho que parar e explicar um ou outro ponto. Das quatro, eu conhecia duas de episódios anteriores, mas por algum motivo não havia falado com elas até então. Uma delas, Tha, havia feito crisma comigo. Nós conversávamos relativamente bastante, mas como não trocamos e-mail ou orkut ou qualquer coisa dessas, a amizade acabou junto com a crisma. A outra, Tu... Bem, sinto que essa é um pouco mais complicada. Que rufem os tambores senhoras e senhores, mais um capítulo de a vida patética de um nerd patético está prestes a começar! Episódio de hoje: Paixão Patética na patética terceira série. Nossa patética história começa num patético primeiro dia da terceira série. O pequenino nerd patético olhava em volta, procurando patéticas pessoas para serem seus patéticos amigos. Viu uma pessoa. Ela não era patética. Infelizmente, ele era. Não conseguiu se aproximar, pelo contrário, acabou indo para o outro lado da sala. Assim o nerd começou sua longa jornada de observação à distância, cada vez mais crescendo em si o sentimento de paixão platônica junto com aquela patética timidez asfixiante que lhe tirava qualquer chance de articular palavras frente a alguma pretendente. A mesma pateticagem que lhe rendeu sua primeira namorada também lhe rendeu o primeiro e patético fora. Sabe, escrever para ele era tão mais fácil do que falar... Na verdade ainda é, mas isso não vem ao caso. O que vem ao caso é que ele mandou um bilhete para ela onde ele explicava até onde uma criança de terceira série conseguia explicar o que sentia por ela. Ele lembra dessa cena até hoje. A escola tinha três pátios, um desses ficava ao lado de uma escada que levava ao único andar superior. Ele costumava ficar em baixo dessa escada observando-a, e nesse dia em que decidiu mandar o bilhete estava observando-a daquele ponto. Primeiro ela pegou o bilhete, olhando para a mensageira com cara de dúvida. Depois ela abriu o bilhete, curiosa. Sentiu o odor de coisa patética naquelas palavras, rasgou-o e jogou-o no lixo. Nosso pobre nerd patético ao ver aquilo sentiu... Sentiu a dor do primeiro e patético fora dado por alguém não patético. E aquela pessoa não patética que havia lhe dado o primeiro fora agora ressurgia ali à sua frente. Lembrava ou não lembrava? Tinha medo de perguntar, tinha medo de saber a resposta. Assim fingiu que não lembrava e continuou a vida. Não deixem de sintonizar na próxima semana para verificar mais um capítulo d’A Vida patética de um nerd patético! Esperamos-te lá!
É... Acho que isso resume bem... e lá estavam elas, mais em específico ela. Prometi a mim mesmo duas coisas, primeiro: Nunca tocaria no assunto da terceira série e segundo: Nunca deixaria que aquilo acontecesse novamente, não importasse o que acontecesse. Tentei me focar em outra pessoa, R, tentar me esquecer do que havia passado porque afinal já era passado. R era... Ou é... Bom, na verdade não sabia nada sobre ela na época, basicamente o que vi foi uma garota bonita com quem tentaria alguma coisa. Passei os meses finais de aula me perguntando como faria para falar com ela e como ela reagiria... Essas duas perguntas sempre me assombraram, mas um dia por esses sites quais querem da internet alguém me recomendou simplesmente que não pensasse, que na hora tudo seria colocado pra fora. Honestamente eu temia que “tudo” significasse meu fígado. De qualquer forma, decidi que falaria com ela. Mas quando? Meninas têm um sério problema que viria a descobrir: As malditas sempre andam em grupo, nunca se tem uma brecha para falar com uma delas a sós e se tal oportunidade ocorre, sempre é com a menina errada. Nesses tempos, por duas vezes acabei sozinho com Tu, em ambas me lembrei da promessa que havia feito, mas... Pois é... É uma merda como algumas meninas não deixam nunca de serem bonitas para certas pessoas, e no passo que a conhecia melhor, acabava gostando cada vez mais dela e menos de R. Mas não! Não podia deixar aquilo acontecer de novo.
Os dias passaram e o último dia de aula chegou. Era um dia de prova e finalmente minha chance surgiu. Chamei-a, engasguei, respirei. Perguntei se queria sair, tomar um sorvete, sei lá... “Não sei”. Essa foi a resposta dela. Disse isso e simplesmente se virou e continuou andado. Que diabos significa? Não sei! Será que quer dizer “Não quero te dizer não, mas... não” ou “Não é um sim, mas também não é um não...” ou mesmo “não sei”! Dúvida! Inferno, e agora? Que fazer? Que fazer...? Nada... Na verdade não sei... Não sei se devo insistir... Acho que... Acho que vou tentar outras opções...

Opções.


Que caralho, opções, quem quero enganar? Acho que gosto mesmo é da Tu... Mas... E agora?

Ah, acho que não vou mais escrever isso aqui... Não acho que tenha muito mais do que falar. Acho que vou guardar isso para me lembrar do que eu já fui um dia. Pra me lembrar de como não proceder na vida.



Celso Machiavel, 15 de Janeiro de 2009.

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