sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Não Pergunte Por Quem os Sinos Dobram


Prefácio:

Você me odeia. É, é a verdade, ninguém gosta de mim. Na verdade, não vejo por que alguém gostaria, quer dizer... Tudo que trago é dor e sofrimento. Se quer saber, eu me odeio, mas... Vou te contar uma coisa, algo que sempre se esquece ao pensar em mim: Sou necessária. Sem mim, suas pobres e inúteis vidinhas fariam menos sentido do que já fazem agora. Triste, não?
Depois dessa introdução profunda e deprimente aposto que quer saber mais sobre mim. Sim... Todos querem saber mais sobre o que acontece depois que chego a um lugar. Imagino como seria se continuasse minha breve introdução sem dizer quem sou... Teríamos aí algo interessante, algo que prenderia sua atenção, não é? Infelizmente para ti, caro leitor, não posso fazer isso, então se vossa senhoria me permitir, continuarei a criar um clima de mistério e depois revelarei minha identidade, de acordo? Muito bem.
Estou presente desde o começo dos tempos, antes mesmo de Adão e Eva (ou Eva e Adão, como preferir, não estou aqui para julgar, sou algo como o meirinho). Ele me criou como instrumento de medo. Funcionou. Na Grécia, aprendi como ser bela, na Pérsia, Brutal. Em Roma, aprendi mais sobre justiça e tive um dos meus primeiros grandes serviços, serviços esses que se tornaram mais freqüentes durante o período que se seguiu. Cada vez mais e mais tinha mais serviço, conforme entrei na Idade Moderna tive uma série de trabalhos, um maior que o outro. Revoluções e guerras, cada vez maiores, cada vez piores, cada vez mais aumentando meu trabalho Até que um dia tudo acabou. Ás vezes recebo um serviço maior no Oriente Médio, mas nada como antigamente, as pessoas aparentemente cansaram de se acharem superiores e resolveram achar as outras superiores. As pessoas agora acham que quanto mais viverem, mais felizes serão. Entre outras coisas, mostrarei que isso nem sempre é verdade. Meu nome? Ah, tenho vários, mas o que mais gosto foi o que me deram às portas de Damasco, الموت é como me chamam. “Morte” é aquele que conheces.
Essa é minha história, o capítulo final de minha vida ou seja lá o que seja isso que estou “vivendo”. Não respiro, não envelheço e posso tomar a forma que bem entender. Posso ser aquela pessoa que esbarra em você ao sair do metrô, o mendigo da rua, o pássaro no fio, o fio... Mas eis o que importa disso tudo: Você não sabe quando nem como, mas sabe que vou chegar.
Como já disse, esse é meu capítulo final. O motivo, senhoras e senhores, é o seguinte: A boa (ou má) e velha dona morte está deprimida e despropositada e foi acertar as coisas com o criador dela. Expôs os fatos, apontou que trabalhara de domingo a domingo 24 horas por dia todos os meses e todos os anos desde a criação sem nunca tirar férias exceto por um único dia durante o que seria a maior batalha da primeira guerra mundial, batalha essa que definiria a guerra se não fosse o fato que nenhum soldado pôde matar o outro, nem com balas nem com facas, alguns chamam esse dia de milagre divino, eu chamo apenas de pausa técnica visto que no dia seguinte todos soldados que deveriam ter morrido naquele dia morreram no dia seguinte durante a maior batalha da primeira guerra mundial. Por sua vez, o Criador examinou cuidadosamente cada argumento e respondeu que o pedido de aposentadoria que apresentava diante dele era mais do que merecido, mas inviável. Explicou como eu era importante e como nada poderia seguir adiante sem mim, como eu deveria me sacrificar pelo bem maior. Aqui, explodi. Minhas palavras exatas foram “Quem pensa que sou? Jesus?”. Aqui aconteceu algo inexplicável, aqui o criador, caro leitor, riu. Riu com tal intensidade e vigor que causou graves terremotos no pacífico, terremotos esses que causaram ondas gigantes comumente chamadas de tsunamis pelos hominídeos habitantes do planeta Terra, ondas essas que destruíram várias cidades, cidades nas quais em uma delas vivia uma pequena garotinha polinésia chamada Kiwi, nome este dado em homenagem ao pássaro nativo da Nova Zelândia quando o pai de Kiwi embriagou-se após o nascimento da filha. Kiwi morreu no tsunami causado pelo terremoto causado pela risada do criador, mas voltaremos a falar dela mais tarde, agora o criador ria. Quando parou de rir, disse que o pedido de Dona Morte era inviável do jeito que ela apresentava-o a ele, disse que, para que sua aposentadoria não destruísse toda e qualquer ordem natural por ele criada, ela deveria encontrar substitutos. Sim, no plural, explicava, para que ninguém ali se sobrecarregasse da forma que eu havia me sobrecarregado.
Portanto agora, caro leitor, apresentarei algo em torno de oito histórias diferentes de oito pessoas diferentes, de idades diferentes, de origens diferentes, de destinos iguais: A morte. Depois dessas breves crônicas, veremos quem, no final das contas, irá me substituir. Que se façam as apostas, senhoras e senhores, os jogos vão começar.

Não Pergunte Por Quem Os Sinos Dobram, Porque Eles Dobram Por Rafael Domingos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário